Concretismo 6q3c5e

Mestra em Letras e Linguística (UFG, 2016) Licenciada em Letras-Português (UFG, 2009) t2a1u

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Concretismo (1940-1960) é um movimento artístico-literário da geração Pós-Modernista. Consiste em uma arte de vanguarda que busca refletir a realidade pelo ponto de vista racional e em consonância aos avanços tecnológicos. Seu referencial estético é marcado pela diversidade de temas e dos modos de expressão da realidade a partir da exploração poética do espaço e da valorização da forma e da comunicação em detrimento do conteúdo.

Contexto histórico-social do Concretismo 5s604g

O Pós-Moderismo surgiu em meio a uma crise de valores e angústias humanas provocadas por Grandes Revoluções e Guerras. Assim, as fronteiras ideológicas entre direita e esquerda, bem e mal, certo e errado, belo e feio tornaram-se pouco nítidas para os artistas da época, sensíveis ao contexto de incertezas, os quais começaram a questionar os modelos estéticos da época.

O Concretismo tem suas origens em um movimento chamado Neoplasticismo, iniciado na Holanda, e impulsionado com a circulação da revista De Stijl (1917-1928), criada pelos artistas Piet Mondrian (1872-1944) e Theo van Doesburg (1883-1931).

O movimento, que exalta as necessidades de clareza, certeza e ordem, inicialmente, limitou-se às regiões da Holanda, Suíça e França, mas foi ganhando força por toda Europa e alcançou status de estilo reconhecido internacionalmente na década de 1950.

O Neoplasticismo tem relação com o Abstracionismo. A ideia defendida por Theo van Doesburg era criar uma arte semanticamente abstrata mas concreta em suas formas geométricas; assim, opta pelo nome de “Concretismo”, derivado de “concreto”, por considerar pejorativo o termo “abstrato”.

Esse conceito influenciou e continua influenciando e inspirando tendências nas áreas da arquitetura, design gráfico e artes plásticas. Outros artistas precursores deste movimento são Max Bill, Pierre Schaeffer e o poeta Vladimir Mayakovsky.

Observe o estilo de Theo van Doesburg em uma de suas telas pintada em 1916:

Stillife,1916. Óleo sobre tela, Museu Thyssen-Bornemisza – Madrid.

Agora, veja o exemplar de um número da revista De Stijl:

De Stijl, Letterklankbeelden.

Na arquitetura, observe o conceito estético de Max Bill:

Endlose Treppe, 1991. Granito. Museu de artes em Ludwigshafen, Alemanha. Foto: Immanuel Giel

Características do Concretismo 4r734z

Os princípios do Concretismo foram publicados na revista De Stijl, em 1930, através de um manifesto assinado por Theo van Doesburg, Carlsund, Doesbourg, Hélion, Tutundjan e Wantz. Nas palavras dos artistas:

A arte é universal. A peça de arte deve ser inteiramente concebida e formada na mente antes de sua execução. Ela não deve receber nenhuma informação da natureza, da sensualidade nem do sentimentalismo. Queremos excluir o lirismo, o drama, o simbolismo, etc. A pintura deve ser inteiramente construída com apenas elementos plásticos, ou seja, superfícies e cores. O elemento pitoresco não tem nenhuma intenção além de 'si mesmo'; como consequência, a pintura não tem nenhum significado além de si mesma. A construção da pintura, bem como a de seus elementos, deve ser simples e visualmente controlável. A técnica de pintura deve ser mecânica, isto é, exata, anti-impressionista. Um esforço em direção à clareza absoluta é obrigatório”.

No Concretismo, é comum que os artistas recorram a noções e fórmulas das áreas da matemática e da física para a formulação das obras artísticas, como na tela Max Bill, Variation 14 (1938), em que o infinito é representado.

Variation 14,1938 - Max Bill

Como vimos, o Concretismo foi um dos caminhos estéticos trilhados no Pós-Modernismo atribuindo destaque à “matéria” no mundo contemporâneo. O destaque à matéria, revela-se na certeza de que as coisas podem ser tocadas, cheiradas, fazer barulho, que elas refletem a luz, projetam sombras.

A “consciência material” nas obras de arte permite que os artistas explorem diferentes possibilidades de criação e interação com o público. Em contrapartida, o sentido deixa de ser algo preexistente para se definir em um processo que se inicia com a concepção de uma obra quando ela é “lida” pelo público. A experimentação, por assim dizer, torna-se o princípio norteador da estética Concretista.

Na década de 1960, a arte é aliada à mídia, que busca atingir o grande público com a recriação de imagens de produtos como sopas enlatadas e esponjas de aço, originando a pop art; no cinema, Jean-Luc Godard investe no experimentalismo, explorando a associação e a sobreposição de imagens nas telonas.

Concretismo na literatura 1p6o15

A partir da década de 1940, a produção literária também mudou suas bases conceituais e estilísticas. Os poetas desejavam devolver aos poemas o rigor formal, rejeitado pelos primeiros Modernistas, e aram a privilegiar o trabalho com a materialidade do texto poético (sons, ritmos, rimas, disposição dos versos, formas) retomando algumas formas fixas e modelos estéticos.

A preocupação com o resgate da valorização da forma poética pode ser percebido na escolha da palavra exata, muitas vezes desdobradas em metáforas, que contribuem para a ampliação de sentidos de um poema para uma infinidade de campos semânticos. As principais características da poesia concreta são:

  • aproveitamento do espaço em branco da página;
  • a abolição do verso tradicional;
  • disposição geométrica do conteúdo;
  • conteúdo voltado aos aspectos visual e fonético (sonoro);
  • uso de figuras de linguagens como aliterações, assonâncias, metáforas e paronomásias;
  • emprego de caracteres tipográficos, desenhos, formas;
  • uso de neologismos;
  • comunica-se por meio da relação estrutura-conteúdo;
  • ruptura com a sintaxe;
  • abolição do eu-lírico;
  • rejeição à expressão subjetiva.

Veja a seguir dois poemas do poeta brasileiro Augusto de Campos, um dos precursores e maiores incentivadores do Concretismo no Brasil:

Sem número. Augusto de Campos, 1962.

 

Luxo. Augusto de Campos. – 1949-1979.

É possível observar que a temática do poema Luxo é atemporal. O poema é composto por um única palavra “LIXO”, escrita em cores douradas, e formada pela repetição da palavra “LUXO”. Neste texto há um forte apelo social e teor crítico em relação a uma sociedade dominada pelo consumo/consumismo, que favorece o luxo e abandona o essencial. A poesia concreta veio para combater a exclusividade do verso, promovendo a expansão dos sentidos da poesia. Além disso, incorpora o signo visual como elemento carregado de significado que interage com as palavras, criando sentidos e multiplicando as possibilidades de leituras.

Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Theo_van_Doesburg

https://en.wikipedia.org/wiki/Endlose_Treppe

https://www.wikiart.org/en/max-bill/fifteen-variations-on-a-single-theme-v-14-1938

CAMPOS, Augusto de. Poesia – 1949-1979. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 119.

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